A Direita Ganha Força na Narrativa de 2026 (e a pesquisa da Quest mostra isso)

02/04/2025 às 11:10:15

A pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta terça-feira (2), trouxe um dado que acendeu o sinal de alerta no Planalto e deve provocar reflexões urgentes no núcleo de comunicação do governo federal: a avaliação negativa do governo Lula subiu 7 pontos percentuais e agora é de 56%. Mas além do número, o que importa aqui é o contexto — e esse cenário é especialmente simbólico quando somado à outra notícia quente do momento político: a decisão do STF de tornar Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado.

É a partir desse duplo movimento — economia mal percebida pelas pessoas + Bolsonaro voltando aos holofotes — que se desenha a atual configuração da narrativa política no Brasil. E, neste momento, a narrativa favorece sensivelmente a direita.

Economia, comunicação e frustração popular

A má avaliação do governo Lula revelada pela Quest não é, na sua essência, uma surpresa. Já vínhamos acompanhando uma tendência de desgaste na percepção do governo, principalmente no que diz respeito aos temas mais sensíveis ao eleitor médio: alta de preços dos alimentos, combustíveis, e o desalento do trabalhador que precisa fazer mágica com um salário mínimo para pagar todas as contas no fim do mês.

Ou seja: estamos falando de sintonia emocional com o cotidiano do povo. E ela, hoje, parece estar falhando.

Lula até tem entregado agendas importantes, como o Desenrola, o novo PAC, medidas voltadas ao combate à fome e ações sociais relevantes. Mas se a população não percebe melhora no bolso, há um vácuo de sensação de resultado. E quando esse vácuo aparece, alguém o ocupa — e, nesse momento, Bolsonaro ocupa muito bem.

Réu ou protagonista?

A decisão do Supremo Tribunal Federal em tornar Bolsonaro réu por tentativa de golpe deveria, teoricamente, deslizar a narrativa em favor da esquerda. No entanto, o que vemos são os holofotes voltados novamente para o ex-presidente — não de forma necessariamente negativa, principalmente dentro do seu ecossistema de comunicação.

Quem apoia Bolsonaro entendeu essa decisão como uma perseguição, e não como justiça. E é aí que ele ativa sua habilidade de comunicação: transforma a narrativa em seu favor, recicla retóricas de mártir, se reposiciona como o perseguido pelo sistema. É a jornada do herói político sendo recontada, agora com ele como protagonista injustiçado, como aconteceu com o próprio Lula em 2022.

Nos bastidores, não há dúvida: a equipe de Bolsonaro vai explorar emocionalmente essa narrativa até o último segundo.

Uma narrativa assim constrói eleições

Toda eleição é, no fundo, uma grande guerra de narrativas. Ganha quem convence melhor, quem emociona mais, quem conecta mais com o presente — e também com os medos e esperanças do eleitor.

Neste momento, quem está estruturando melhor essa narrativa é a direita. Bolsonaro, mesmo como réu, virou o centro do debate público. Está nas manchetes, nos grupos de WhatsApp, nos stories e nas rodas de conversa. Ele assumiu o papel de ator central. Lula, ainda que no poder, não está ocupando esse mesmo lugar simbólico dentro da narrativa popular.

Aliado a isso, temos a pesquisa Quest evidenciando um desgaste real na percepção popular sobre o governo. Quando esses dois fatores se cruzam (narrativa consolidada de um lado + rejeição crescente do outro), o cenário se torna muito mais favorável à direita para 2026.

E não nos enganemos: mesmo inelegível neste momento, Bolsonaro é, sim, candidato latente. A inelegibilidade pode ser revistas em instâncias superiores. E, se ele conseguir estar apto juridicamente, torna-se automaticamente o favorito. Se não puder ser nome, terá que ser influência — e transferir votos para um sucessor, o que é sempre mais difícil, ainda que não impossível.

O que Lula precisa fazer?

Lula precisa urgentemente se reinventar na comunicação. Adotar a velha estratégia de respostas longas e discursos técnicos não funcionará como antes. O povo quer solução, mas também quer se sentir parte da solução. Quer se sentir ouvido, amparado e representado.

É hora de ousar mais, de sair da zona de conforto, revisitar campanhas vitoriosas e incorporar elementos de influência digital que têm funcionado muito bem para políticos da direita. Não é sobre copiar, mas sim sobre compreender a lógica: comunicação hoje é, sobretudo, emoção + constância + narrativa com cara de verdade.

Se o governo continuar a comunicar como se estivesse ganhando — enquanto a população sente que está perdendo — a campanha pela reeleição começa a perder antes de começar.

O momento político exige reflexão, estratégia e coragem. A direita está vencendo a batalha simbólica neste momento, e a pesquisa Quest é apenas a materialização disso. A esquerda, se quiser dar o troco em 2026, precisará de muito mais do que retrospecto — precisará de imaginação narrativa, sensibilidade social e comunicação de impacto.

Afinal, como já aprendemos inúmeras vezes na história política: não ganha o melhor gestor. Ganha quem melhor convence que é a solução.

 

Thiago Jacaúna, Especialista em marketing político e tráfego pago, ajudando candidatos e empresas a conquistarem seus objetivos no ambiente digital.

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